O futebol foi proibido para as mulheres, mas elas resistiram!
Não foi fácil para a sociedade aceitar que as mulheres também tinham o direito de jogar futebol. E foi graças à resistência e à luta feminina que governos autoritários ao redor do mundo tiveram que ceder e rever suas diretrizes.
Não foi fácil para a sociedade aceitar que as mulheres também tinham o direito de jogar futebol. E foi graças à resistência e à luta feminina que governos autoritários ao redor do mundo tiveram que ceder e rever suas diretrizes.
No Brasil, por exemplo, as mulheres passaram quatro décadas excluídas oficialmente do esporte que era visto como paixão nacional. Mas essa história será contada em um capítulo à parte para dar o devido destaque.
Mulheres em busca de reconhecimento
Em países europeus, como Inglaterra, França e Alemanha, por exemplo, não foi diferente do que aconteceu por aqui. Na terra da Rainha, a história aponta que pouco antes de 1920 as inglesas já jogavam futebol e um dos primeiros times 100% feminino que surgiu, em meio a Primeira Guerra Mundial, foi o Dick Kerr Ladies.
O time era formado por mulheres que trabalhavam em fábricas (entre elas, a fábrica de munição, Dick, Kerr & Co, que ficava em Preston, cidade industrial no norte da Inglaterra). No auge de sua história, elas levavam multidões ao estádio e colecionavam vitórias memoráveis.
Muitos registros contam a história de uma mulher que se destacou no Dick Kerr Ladies. Seu nome era Lily Parr e, em sua primeira temporada com a equipe, aos 14 anos, ela marcou 34 gols. Durante toda sua carreira, a estimativa é de que Parr tenha marcado mais de 980 tentos.
Mesmo assim, o futebol feminino foi proibido entre mulheres na Inglaterra e a alegação era a de que o esporte fazia mal para a saúde delas. Mas sabemos que, na verdade, a presença das mulheres jogando bola incomodava demais o status quo daquela época.
A França apresenta uma história contraditória no futebol feminino: criou uma das primeiras equipes de que se tem registro, no início do século XX, e, ao mesmo tempo, só apresentou uma evolução na modalidade recentemente. Em cem anos, o futebol feminino foi proibido, passou longe dos holofotes e ganhou fôlego só nos anos 2000, com o desenvolvimento da modalidade entrelaçado ao crescimento do Lyon, clube multicampeão com a equipe feminina.
O primeiro time só delas, o Fémina, nasceu em 1912, três anos antes da criação da Federação Francesa de Futebol (FFF). Mesmo mais jovem, a FFF não quis aceitar a filiação de mulheres e, em 1941, proibiu a prática durante o regime de Vichy, governo autoritário vigente durante a Segunda Guerra Mundial. A modalidade só foi liberada novamente na década de 1970 e custou a deslanchar ? a primeira participação delas no campeonato mundial foi apenas em 2003, com três ciclos de atraso em relação à primeira edição, em 1991.
Na Alemanha a história foi similar com o que aconteceu na Inglaterra, já que chegou a ser considerado imoral ver mulheres jogando futebol. Há registros de que as universitárias chegaram a organizar um campeonato feminino em 1922. É claro que o regime nazista também colaborou para que a prática feminina não vingasse, já que o próprio governo pregava que o papel primordial que as mulheres alemãs deveriam desempenhar era o da maternidade.
Saindo um pouco da Europa, no Japão há registros de que as mulheres jogavam bola há mais de 100 anos, mas só em 1960 é que a modalidade passou a ser praticada com mais organização. Em 2011, as japonesas conquistaram seu primeiro título mundial no futebol feminino, um marco para o país asiático.
EUA: onde a lei veio, não para proibir,
mas para estimular
Já nos Estados Unidos, a hegemonia conquistada pelas mulheres no futebol feminino passa pela prática do esporte no ambiente escolar e universitário, graças a uma lei promulgada em 1972. Uma emenda feita no ?Title IX? proíbe qualquer discriminação de gênero nos programas educacionais apoiados pelo Estado federal americano.
Na prática, a lei basicamente impôs que universidades e escolas igualassem as bolsas de estudos oferecidas em programas esportivos para homens e mulheres. Além disso, elas tinham que proporcionar a mesma estrutura de treinamento, instrução e desenvolvimento para ambos os gêneros nos ambientes educacionais.
No esporte, o efeito da lei pôde ser percebido nos números: em 1972, uma em cada 27 meninas praticava esportes nos Estados Unidos. Atualmente, a estatística está em uma em cada três - entre os meninos, um em cada dois.
Esse foi o pontapé inicial para a transformação e sucesso do futebol feminino americano, que ostenta quatro títulos mundiais. Nos Estados Unidos, dá pra dizer sem medo que futebol é coisa de mulher.
Um novo tempo
Nos últimos anos, a modalidade feminina vem conquistando seu espaço. O interesse das meninas pelo futebol tem aumentado, as ligas estão se fortalecendo, os clubes passaram a ter um olhar mais atento e profissional com as atletas e o público segue crescendo.
Fora das quatro linhas, a presença feminina também cresce em outras áreas. Hoje, elas podem ocupar novos cargos no ambiente esportivo: ser árbitras, treinadoras, diretoras de clubes, narradoras, jornalistas? Mas é importante que sigam atentas para que não haja retrocessos e que não permitam que seus direitos sejam contestados.
Em um ano tão especial como esse, podemos afirmar que o futebol feminino será ainda mais visto e aplaudido. Mas é sempre importante lembrar daquelas mulheres que enfrentaram o autoritarismo e desafiaram a lógica da sociedade há quase cem anos.
As mulheres do passado quebraram barreiras e as mulheres do presente estão abrindo caminhos para que o futuro seja mais gentil com as garotas da próxima geração. Mais do que sonhar, agora elas podem realizar: o futebol também pertence a elas.
Gostou do texto? Na semana que vem estamos de volta para te contar a história do futebol feminino no Brasil. Fique ligado!
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